Comentário de D.Fernando sobre a JMJ 2013

A Jornada Mundial da Juventude e o Papa

Brasão_Dom_Saburido
Um acontecimento como a Jornada Mundial da Juventude e a primeira visita internacional do papa Francisco com seus discursos e entrevistas proferidos por ocasião dessa visita ao Rio, se constituem como acontecimentos tão profundos e densos que merecem uma avaliação difícil de ser resumida em poucas palavras e menos ainda concluída no imediato dos acontecimentos. Sem dúvida, precisaremos de mais tempo para assimilar melhor e tirar as devidas conclusões da Jornada e da visita do papa ao Brasil. Isso não impede que já possamos sim tecer algumas considerações que possam ajudar a juventude, o clero, os agentes de pastorais e todo o povo de Deus de nossa arquidiocese.
O lema dessa Jornada Mundial da Juventude foi a palavra do Evangelho: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas nações” (Mt 28, 19). Nesses dias, aprendemos do papa Francisco que antes mesmo do anúncio do Evangelho, é preciso cultivar a evangelicidade profunda de nossos gestos e modo de ser. Foi a partir da sua atitude de abertura à humanidade e de diálogo com todos que o papa, ao encerrar a Jornada Mundial da Juventude, pediu que a juventude leve a toda a humanidade a fé com alegria e estenda sua mão a quem vive à margem da sociedade. Como bem sinalizou Paulo VI na Exortação Apostólica, Evangelii Nuntiandi, evangelizar é “tornar nova a própria humanidade” (EN 18). Assim também o entende o papa Francisco. Mas adverte que o “permanecer” em Cristo não significa ensiesmamento ou entrincheiramento eclesial, mas “um permanecer para ir ao encontro dos demais”.
Em várias ocasiões, sobretudo, na celebração com os bispos, padres, religiosos e seminaristas o papa insistiu na necessidade de sermos uma Igreja que não tenha medo de sair ao encontro do outro. Que saiba dialogar com aqueles discípulos que vagam sem meta, sozinhos, com o seu próprio desencanto. Temos de acompanhar essas pessoas e tocá-las em seu coração pela nossa proximidade afetuosa e respeitosa. Particularmente, para nossa arquidiocese que está em fase de elaboração do plano de pastoral, é de grande valor aquilo que o papa orienta quando diz: “Decididamente pensemos a pastoral a partir da periferia, daqueles que estão mais afastados, daqueles que habitualmente não frequentam a paróquia”.
Ao discursar no Teatro Municipal para segmentos da sociedade civil e lideranças religiosas, no dia 27 de julho, o bispo de Roma volta a falar na “cultura do encontro” e no desafio de um “diálogo construtivo”. O diálogo é a opção certeira contra a “indiferença egoísta” ou o “protesto violento”. E um diálogo que seja amplo, envolvendo partilha com as diversas gerações, com o povo, com as culturas e religiões. Não há saída feliz para o horizonte da humanidade a não ser pelo diálogo: “É impossível imaginar um futuro para a sociedade sem uma vigorosa contribuição das energias morais numa democracia que evite o risco de ficar fechada na pura lógica da representação dos interesses constituídos”.
Não sabemos ainda as consequências das palavras do papa na organização da próxima Jornada da Juventude, anunciada para a Polônia. Provavelmente ela poderá centrar-se mais na missão da juventude no seu mundo próprio, o bairro, a escola, a universidade, o trabalho e o lazer, assim como abrir-se à leitura orante da Bíblia e à liturgia como fonte de espiritualidade.
Na nossa arquidiocese, a insistência do papa no diálogo como ato espiritual e como dever ético que temos uns com os outros sem dúvida nos ajudará a aceitarmos nossas possíveis diferenças e, a partir dessas diferenças, vivermos a comunhão de uma mesma esperança e a alegria da mesma fé comum. Que Maria, mãe da Igreja e nossa mãe, nos firme nesse caminho.
Dom Antônio Fernando Saburido
Arcebispo de Olinda e Recife

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